segunda-feira, 18 de maio de 2015

Primeira vez...!

Olá, amigos, tudo bem com vocês? Quê que ces andam fazendo hein? Não que seja da minha conta, é claro, nem que algum de vocês vá me responder, nem que eu me importe rsrs. Bom, eu tô no estágio, tenho estante pra arrumar, pesquisa pra fazer, apostila pra estudar, mas tô com preguiça ouvindo Secos & Molhados (como o natal finaaaal), comendo um pão de queijo bem delícia com um café bem massa, e pensando ainda no que eu vou fazer, então decidi escrever um pouco, pois, sdds, resolvi ainda começar assim porque não sabia como iniciar isso, bem verdade.

Mas quero relatar pra vocês na verdade, o que me ocorreu neste fim de semana, só espero que ninguem venha me atrapalhar pedindo "ainn procura pra mim o dia que fulanooo nasceu, por favor, moçaa". Título proposital porque sei que os malandrão vão pensar bobeira? Sim, isso é só buzines, galera, ok?

A primeira vez que eu beijei na boca foi um desastre, eu roía unha pra caralho e quando o menino veio me beijar eu tava com um pedaço de unha na boca, so sad. A primeira vez que viajei pra fora do estado, foi pro Rio de Janeiro. A primeira vez que fui a um show escondida dos meus pais, foi pra um show do Nando Reis em Arapiraca (pai, mãe, se vocês estão vendo isso, é mentira, isso aqui é só marketing). A primeira vez que chorei por causa de namorado, foi porque ele tinha me xingado nao meio da rua, coisas da vida galera, segui em frente. Mas quero falar pra vocês da primeira vez que fui a um enterro. A única vez que tinha visto uma pessoa morta na minha vida foi no início do ano passado, e não foi nada legal. Estava em Maceió, passando no ônibus e tinha uma criança morta no chão, um carro de Polícia, e como sempre os curiosos ao redor, e mais os curiosos do ônibus que levantaram pra olhar pela janela, e sinceramente, eu não entendo essa curiosidade. Meu reflexo só foi virar o rosto e sentir vontade de chorar, acho que não é nem questão de ter estômago pra essas coisas, e sim coração. Lembro que quando eu era criança, minha mãe fechava meus olhos com as mãos quando passava "Cenas Fortes" no Fique Alerta, imagina só ver uma "cena forte" do Fique Alerta pessoalmente. Vocês tem que me entender, sabe, eu choro vendo noticiário na TV, talvez precise de terapia.

Esse era pra ser mais um fim de semana normal, chegou a sexta-feira, e no fim do expediente eu iria pra casa, almoçar, tomar banho, e descansar esperando meu namorado sair do trabalho e ir me ver pra passarmos o fim de semana juntos, eu já não aguentava de tanta saudade, depois de duas semanas sem nos vermos. Dai recebo uma mensagem "minha avó morreu". Cara, me diz o que a gente tem que dizer nessas horas? Eu sou a pior pessoa do mundo pra consolar alguém, até porque nessas horas não adianta vir com "ainnn foi porque Deus quis" "chegou a hora dela", não, eu não iria falar essas coisas, o que eu poderia fazer seria estar com ele, nada mais. Me ofereci pra ir ao enterro, mesmo sem saber como me sentiria sendo tão fraca pra essas coisas e nunca ter ido em um. No sábado, então, eu estava lá em sua casa as 7:30, tomei café da manhã com todo mundo, e fiquei contente de ver que ninguém chorava, faziam até piadas, e estavam relembrando momentos, o que seria bem diferente mais tarde.

Assim que cheguei no velório e me deparei com a cena daquele caixão aberto e aquela mulher deitada lá fiquei estarrecida, deu um aperto no coração, fiquei com vontade de chorar, mas acho que não tinha esse direito, talvez seja coisa da minha cabeça, mas acho que o direito de esboçar sua dor ali seria dos familiares e das pessoas que eram próximas, eu a conhecia somente há 7 meses, tive medo de soar como algo falso, então me contive, mas olhando praquele caixão, mil coisas passavam pela minha cabeça, minha cunhada chorando, e meu namorado sem esboçar nenhuma reação. Não tentei me colocar no lugar de quem estava lá. Pelo menos naquele momento. Não consegui imaginar o que é perder alguém com quem vivi a vida toda. Só pensei que querer fugir desse encontro inevitável, que é a morte, ou ignorá-lo, além de inútil, não me parece ser a melhor opção. Sabe, eu também vou morrer, e nem sempre sou capaz de aceitar o óbvio. Na verdade, tão logo nascemos começamos a nos despedir desta vida. É como se estivéssemos no mesmo trem, mas em vagões diferentes. Um trem cujo destino é a morte. Na hora em que fecharam o caixão, minha cunhada começou a chorar desesperadamente, e eu só conseguia pensar "para de chorar pelo amor de deus, para de chorar, se não eu vou chorar também".

Além da questão do tempo, outro mistério que ronda a morte é a forma como ela acontecerá. Raul se perguntava a respeito, na música Canto para minha morte:

"Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa a bater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio..."

Já no cemitério, havia um pastor falando umas coisas das quais eu não concordava em grande maioria, aliás, se tem algo que eu gostaria de pedir a meus familiares, é que quando eu morrer não quero nenhum padre ou pastor falando essas coisas no meu enterro, e se ninguem respeitar meu pedido volto pra puxar no pé de todo mundo. Quero que alguém que realmente gostava de mim e se importava comigo estivesse la falando de mim, não só coisas boas, que falasse tudo mesmo.

Algo que eu ouvi muito foi que ninguem ali deveria chorar, puta merda, mas porquê? Se até eu que ali era uma intrusa fiquei com vontade, imagina as pessoas que tinham contato frequente. Fiquei perplexa ao ver que meu namorado não chorou em nenhum momento, até que chegou a hora do enterro, e vi que ele não aguentou, fiquei até aliviada, mas nessa hora não consegui ficar perto dele, não consegui ficar próximo e me afastei porque meu coração não aguenta essas coisas, fiquei olhando ele chorar de longe e me sentindo uma puta desalmada de não estar perto dele. Acho que isso das pessoas de se esforçarem pra não chorar, pra mostrar uma certa força só deixa o choro preso e acumulado, é sempre pior.

A vida segue seu rumo, impiedosa. Os dias continuam passando com 24h e o resto de sua vida caminha a passos largos, ainda que rápido você precisa dar um ritmo a tudo. A questão é que é impossível exigir que funcionemos como se nada tivesse acontecido. É impossível desvincular o emocional das nossas rotinas diarias. Se não, não teremos mais tempo pra chorar, então choraremos no caminho de algum lugar, ou enquanto executamos alguma atividade, ou ouvindo There Is a Light That Never Goes Out. O mundo não para, os segundos correm, o ritmo passa... Sinto falta de ter mais tempo, porque um dia nós é que vamos morrer... e a perda me fez pensar no quanto è importante se preocupar com o que você anda fazendo da sua vida... Eu queria poder ter mais tempo pra chorar, quería que meu namorado tivesse mais tempo e coragem pra chorar. Um dia seremos cada um de nós, deixando esse mundo. Mas enquanto eu estiver nele, espero fazer o melhor pra ser feliz e viver, dedicando meu tempo aquilo que me dá prazer,  sentar com meus amigos, ficar deitada vendo filme e comendo porcaria com o boy... Eu juro tentar.

Eu não conhecia muita gente ali, mas me compadeci com o sofrimento de todos, eu realmente espero ser mais forte em situações como essa. Ver o sofrimento dos outros, principalmente de pessoas importantes me deixa mexida, e eu fiquei muito mexida com tudo isso, talvez também porque nunca tenha tido uma grande perda na minha vida. Tentei ajudar da melhor forma, que era estando presente, e espero que todo o carinho que eu tenha dado nos dias seguintes tenha ao menos confortado.