Não quero aqui fazer nenhum
pedido ao tempo, nem dizer que ele é a cara o meu filho porque nem filho eu
tenho (graças a Deus).
Na verdade eu nem sei o que eu
quero, se dias mais longos pra ter tempo de fazer tudo o que eu deveria fazer,
ou menos coisas pra fazer durante o dia.
Uma das coisas que mais sinto
falta ultimamente: dormir. Eu não consigo dormir em coletivo, pois tenho muito
medo de passar do ponto em que tenho que descer, mas essa semana foi inevitável
dormir naquele Eustáquio-Iguatemi vazio sentada do lado da sombra na janela, coisa
rara de ver às 12:00 hrs, era conforto demais, sorte demais pra um dia só, o
cansaço e o sono me venceram acabei pegando no sono sem nem perceber, por sorte
acordei dois pontos antes do meu, obrigada santan. Sempre que tenho uma
oportunidade eu durmo, pareço o Chaves no episódio que ele dorme no chão do
pátio da vila. Esses dias deitei em um banco da faculdade pra ler quando vi me
assustei com meu próprio ronco. Durante o fim de semana, vejamos, até poderia
dormir até tarde, mas o pau no cu que divide o apartamento comigo levanta 7:00
horas da manhã e fica ouvindo Edson Gomes.
O engraçado é pensar que eu queria
tudo isso, eu queria entrar na faculdade, queria arrumar um emprego, queria
sair de casa. Agora fico o dia todo ocupada, e só chego em casa depois das
21:30. Não reclamo de nada disso, tenho que me dividir em 30 pra ter tempo de
fazer tudo, mas sei que vai ser bom pra mim (ou não). É só que... o tempo,
talvez eu esteja acumulando muita coisa da faculdade e não esteja tendo tempo
de fazer tudo e acabe ficando tudo pra última hora, mas não abro mão de passar
um fim de semana todo com meu namorado, pois é o único tempo que tenho pra
curtir a companhia, o amor e o aconchego que ele me traz, e em momentos de tumulto
psicológico-pessoal-acadêmico dormir agarradinha com alguém falando “boa noite”
no seu ouvido e beijando seu pescoço ajuda que é uma beleza.
É cada vez mais difícil aceitar
que se passaram 30 minutos quando a gente acha que passaram-se no máximo 15. É
extremamente difícil aceitar que o tempo escorre pelas mãos e a gente ainda não
fez nem metade do que estava previsto pra semana, pro mês e pro ano. É como se
estivessem adiantando todos os relógios sem prévio consentimento. E a gente?
Ainda não fez a viagem que sempre quis, ainda não comprou o livro que tá há
meses querendo ler, ainda não assistiu nenhum dos filmes que adorou só pela
sinopse, ainda não perdoou e muito menos esqueceu aquela discussão
desnecessária do outro dia, ainda não colocou em prática nenhum dos projetos
legais que anotou no caderninho, e continua olhando pro relógio apavorado com
os ponteiros que parecem girar mais rápido do que nunca. As 24 horas já não são
o suficiente, a gente quer tanta coisa, por que não querer mais horas no dia
também? Procrastinação? Talvez. Preguiça? Bem provável. Desorganização? É,
estamos quase lá…
Nascemos para viver e estamos
vivendo menos do que nunca? Ah… preciso de mais tempo, sim. Só não quero ser
daquelas pessoas que não têm tempo pros amigos, que não tem tempo pro amor, que
não tem tempo pra diversão, eu quero ser a melhor professora de história que
meus alunos irão ter, mas também quero ser a melhor namorada, a melhor amiga, a
melhor irmã, a melhor parceira de diversão e de dança, a que não ignora
mensagens, a que guarda um tempinho pra rir com os amigos, mesmo que na fila do
restaurante da universidade ou no grupo do whatsapp, porque o bom profissional
não se cria só do trabalho cego, os amigos, os amores, e o tempinho guardado
pra tudo aquilo que te faz esquecer os problemas, também te fazem vencer. É
tudo isso que você vai levar pra vida.
A verdade é que somos todos
adultos, com vida de adultos, cabeça de adultos. Mentira, somos, adultos com
cabeça de criança. AINDA BEM. Ou de velhinhos, às vezes. O fato é que cada um
tem uma vida mais corrida que a do outro, os próprios compromissos, os outros
amigos…
Conforme a gente vai crescendo,
ficam dizendo pra gente que não vamos ter mais tempo pra nada. Nem pros amigos.
“Depois começa a trabalhar, casa, tem filho e casa pra cuidar, quero ver conseguir
ver os amigos”. E posso falar uma coisa? A realidade nua e crua é que a gente
sempre vai ter menos tempo, menos espaço na agenda, mais coisas pra fazer, mais
preguiça, mais cansaço, mais vontade de se enfiar num casulo e por lá ficar. E
se a gente acreditar nisso, a gente se enfia no casulo mesmo e BUM, a vida já
era.
Uma amizade verdadeira, sólida, é
como casa de vó. A gente não vai sempre, mas ela está lá, ela nos ama, ela
lembra muita da gente, e quando a gente vai visitar, rapidinho ou pra ficar sem
hora pra ir embora, é a maior delícia e a comida é sempre mais gostosa.
Não precisa ser assim. A maldição
do ‘um dia você não vai mais ter tempo pra isso’ não precisa pegar na gente.
Nem em mim e nem em você. Amizade é tão mais do que estar por perto o tempo
todo.
Você pode achar um tempinho na
sua agenda pra ir comer comida chinesa com seu namorado, mesmo que depois os
dois passem mal.
E quando o amigo tá triste, a
gente arranja um tempo, leva pro bar, toma umas biritas, chora as mágoas lado a
lado, que é pra tristeza escorrer mais rápido e ir embora duma vez.
Eu ando sem tempo, tenho muito
trabalho acumulado, tenho que arrumar casa, mas ainda quero ser sim, a amiga, a
namorada, a engraçada do grupo dos amigos do ensino médio, a filha que arranja
um tempinho pra viajar no feriado e ver a família, pois, quando eu for a Dr.
Luiza formada nas história do Brasil saber tudo dos índio das política e tudo
mais, eles serão os únicos que irão ignorar esse “Dr.” e dizer que não sabem
como eu consegui chegar nisso se eu não conseguia nem falar na frente das
pessoas, mas vão morrer de orgulho de mim.
Inclusive, sem tempo pra escrever
isso também, mas mesmo assim escrevendo.